
Pra mim, livro é vida; desde que
eu era muito pequena os livros
me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora,
livro era tijolo; em pé, fazia parede;
deitado, fazia degrau de escada; inclinado
encostava um no outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta e eu
me espremia lá dentro pra brincar de morar em
livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo
(de tanto olhar pras paredes). Primeiro,
olhando os desenhos; depois, decifrando palavras.
Fui crescendo, e derrubei telhado com
a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E
quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu
ia me lembrando de consertar o telhado ou de
construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora
alimentava a minha imaginação.
Todo o dia a minha imaginação comia, comia e
comia; e de barriga assim toda cheia, me
levava pra morar no mundo inteiro: iglu,
cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e
pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com
essa troca tão gostosa que- no meu jeito de
ver as coisas- é a troca da própria vida;
quanto mais eu buscava no livro,
mais ele me
dava.
NUNES, L.B.Mensagem para o Dia Internacional do Livro Infantil. IBBY-Organização Internacional Para o Livro Infantil e Juvenil,1982.
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